Confecção de peças artesanais aprimora o ensino de ciências morfológicas

Confecção de peças artesanais aprimora o ensino de ciências morfológicas

Publicado pela Agência Universitária de Notícias (AUN) da ECA-USP, em 06/06/2023, por  Mariana Zancanelli

Escrito pela pós-doutora Catia Massari e pela professora Maria Angelica Miglino, ambas da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, o artigo Artesanato Como Ferramenta Complementar ao Ensino-aprendizagem de Ciências Morfológicas investiga uma nova possibilidade pedagógica. O estudo exploratório apresenta a confecção de peças como um recurso para estimular a percepção e a atenção de estudantes, complementando a formação nas áreas de Biologia Celular, Histologia, Embriologia e Anatomia, que constituem as Ciências Morfológicas.

“Meu intuito sempre foi ensinar forma e função das estruturas anatômicas e, como ponto de partida, escolhi uma técnica que já era conhecida por alguns estudantes, o crochê. Esta modalidade de artesanato utiliza materiais de baixo custo e, geralmente, é passada de pais e avós para os atuais alunos de faculdade, o que valoriza o contexto familiar em que eles estão inseridos”, conta Massari.

Representação da placentação nas diferentes espécies. Imagem: acervo de Catia Massari

Produção dos amigurumis
Estudantes da disciplina de Morfofisiologia Animal que já tinham experiência com o crochê foram convidadas para moldar os amigurumis em seus domicílios. O termo é uma combinação das palavras japonesas “ami” e “migurumi”, que significam, respectivamente “trançado” e “boneco de pelúcia”. As peças, que foram feitas com lãs, linhas e fibra sintética para enchimento, eram constituídas por formas geométricas de esferas e cilindros e variavam entre 5 e 35 centímetros. As discentes se dividiram em quatro grupos e tiveram “autonomia para pesquisar e adaptar as receitas necessárias para elaboração dos modelos específicos”, explica o texto. Após o processo artesanal, elas apresentaram as estruturas para a turma, relacionando os modelos com os conteúdos das aulas teóricas e práticas.

Dois grupos escolheram o aparelho respiratório, um deles representou os pulmões humanos e o outro, os pulmões caninos. A terceira equipe elaborou um esquema de placentação comparada. Foram abordadas as placentas de suínos, ruminantes, carnívoros e primatas. Já o quarto grupo produziu o aparelho urogenital, que englobou um par de rins, ureteres, vesícula urinária e uretra.

 Face costal dos pulmões humanos. Imagem: acervo de Catia Massari.

Vantagens do método
Nesse processo, foi destacado o aprendizado compartilhado das estudantes, que construíram as peças a partir de suas vivências pessoais e valorizaram as diferenças individuais de cada modelo crochetado. Para as autoras, essa experiência artesanal, especialmente após o período hiperconectado da pandemia, pode trazer um respiro, estimular a criatividade e fortalecer as capacidades de expressão e de compreensão científica. Além disso, “não podemos acreditar que o aluno seja um caderno em branco no início do semestre, mas sim, devemos encontrar uma maneira de vincular suas vivências pregressas à prática pedagógica na universidade”, complementa a pesquisadora.

Segundo o artigo, a Anatomia é uma disciplina que exige bastante da memória do discente, que precisa se apoiar muito na visualização, seja de cadáveres ou de imagens. Porém, devido às reduções de recursos nos laboratórios, o contato com as peças reais vem diminuindo e a busca por abordagens diferentes, crescendo. Nesse sentido, os modelos crochetados podem ser materiais didáticos mais acessíveis. “Para mim, o desenvolvimento de métodos de ensino inovadores é uma premissa geral para o processo pedagógico hoje em dia”, explica a médica veterinária. O estudo acredita que as alunas-artesãs poderão ter melhores desempenhos acadêmicos, um resultado do denominado “efeito aditivo”, que pode auxiliar na assimilação das informações. Contudo, Massari ressalta que o método é uma alternativa para complementar o ensino tradicional com as dissecações, não substituí-lo.

Embora a técnica seja promissora, é frisado que os docentes devem ser orientadores atentos, equilibrando a criatividade dos estudantes com “a responsabilidade e o rigor da instrução acadêmica”. O artigo, que é um recorte da pesquisa de pós-doutorado Métodos Complementares de Ensino-aprendizagem de Anatomia Comparativa, realizado no Departamento de Cirurgia da FMVZ- USP, adverte que são necessários novos estudos para se aprofundar nas limitações do material, para avaliar as potencialidades da metodologia e para verificar o desempenho acadêmico das alunas a longo prazo.

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